Os cursos de graduação em artes e design têm vindo a incorporar o ensino da computação nos seus programas de estudo. Por meio de uma análise documental dos currículos de 1º ciclo oferecidos pelo subsistema de ensino público de Portugal no ano letivo 2018-19, identificamos 40 cursos de diversas áreas artísticas e de design, frequentados por cerca de 5.600 estudantes, que abordavam a programação de computadores em pelo menos uma unidade curricular. Numa subsequente análise qualitativa das fichas das 128 unidades que identificamos como relevantes, procedemos a uma caracterização dos objetivos, dos conteúdos e dos métodos de avaliação e de ensino da computação no ensino superior artístico. Perante o ceticismo, expresso na literatura, sobre a validade e a robustez de abordagens breves ao tema da computação, notamos que parte dos cursos lhe dedica poucas unidades ou créditos. Encontramos, ainda, cursos em que o tema é introduzido numa fase avançada do currículo, em que é provável uma menor dedicação dos estudantes. Ao nível das unidades curriculares, notamos a prevalência do objetivo de capacitar os estudantes para uma aprendizagem autônoma, que se traduz frequentemente em conteúdos demasiado extensos para uma abordagem não superficial. Alertamos, ainda, para o uso de métodos de avaliação por meio da realização de projetos que não asseguram a aprendizagem dos conteúdos. Esperamos, com este artigo, prestar um ponto de situação e dar um contributo para a reflexão e para o debate sobre a relevância e sobre a forma como a computação é abordada no ensino das artes e do design.
Morais, E., & Morais, C.. (2024). Computação e o ensino superior artístico português: currículos e práticas nos cursos de graduação públicos. Educação e Pesquisa, 50, e264264. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450264264